quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

OFICINA DE XADREZ PARA EDUCADORES NA USP

Estação Ciência daUSP promove oficina de xadrez para educadores.

Entre os dias 26 e 30, das 9 às 12 horas, a Estação Ciência realizará a Oficina de Xadrez.
O evento, direcionado a educadores de todos os graus de ensino, aborda como o xadrez pode ajudar no processo educacional. O responsável pela oficina é Ernani Baroni, integrante da equipe da Estação Ciência há 17 anos e jogador de xadrez há 37.
As inscrições estarão abertas dos dias 13 a 23, das 10 às 18 horas, na Seção de Eventos da Estação Ciência. Ao todo serão oferecidas 20 vagas na oficina, que serão preenchidas de acordo com a ordem de inscrição. A participação é gratuita. As aulas acontecem na Sala A da Estação Ciência, centro de divulgação científica e cultural da USP, na Rua Guaicurus, 1.394, Lapa, São Paulo.

Mais informações: (11) 3673-7022

Fonte USP

http://www4.usp.br/index.php/noticias/39-educacao/16006-estacao-ciencia-promove-oficina-de-xadrez-para-educadores

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

PROCESSOS COGNITIVOS NO XADREZ

Estou republicando o ótimo texto que se encontra abaixo, de autoria de Wilson da Silva. É apenas a introdução da dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação, Curso de Pós-Graduação em Educação, Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná. Wilson me sugeriu disponibilizá-lo aqui no nosse site e prontamente aceitei a oferta. Toda a dissertação pode ser lida no link no final da introdução.

"Processos Cognitivos no Xadrez"

1 INTRODUÇÃO

Os jogos de tabuleiro têm um importante papel em pesquisas, desde meados do século XX. Em 1944, baseando-se em jogos como xadrez e pôquer, John von Neumann e Oskar Morgenstern elaboraram a teoria dos jogos, cuja aplicação estende-se a problemas matemáticos, sociais, políticos, econômicos, da psicologia e também na guerra (DAVIS, 1973, p. 15). A teoria dos jogos representa um método para abordar, de modo formalizado, os processos de tomada de decisão por parte de agentes que reconhecem sua interação mútua (FIANI, 2004, p. XII). Considera que problemas de comportamento econômico, como a troca direta ou indireta de mercadorias entre duas ou mais pessoas, o monopólio, o oligopólio e a competição livre podem ser analisados pela teoria matemática dos jogos de estratégia (NEUMANN; MORGENSTERN, 1990, p. 1). Em 1994, os matemáticos John F. Nash, John C. Harsanyi e Reinhard Selten foram laureados com o prêmio Nobel em economia por suas análises sobre o equilíbrio na teoria dos jogos não-cooperativos. A teoria dos jogos fornece importantes elementos para se entender como um enxadrista escolhe bons movimentos durante a partida, conforme se verá no item 3.3.2 sobre a análise enxadrística. Dentre todos os jogos de tabuleiro, o mais estudado é, sem dúvida, o xadrez, sendo que sua utilização pela psicologia é comparada à da Drosophila (mosca da fruta) em pesquisas de genética: “as genetics needs its model organisms, its Drosophila and Neurospora, so psychology needs standard task environments around which knowledge and understanding can cumulate. Chess has proved to be an excellent model environment for this purpose.” (SIMON; CHASE, 1973, p. 394). O impacto das pesquisas sobre o xadrez nas ciências cognitivas foi bem captado por Charness num artigo de 1992. Charness pesquisou em duas respeitadas fontes de informações, a Social Science Citation Index e a Science Citation Index, para localizar as publicações mais citadas referentes ao xadrez, e encontrou o livro Thought and choice in chess (DE GROOT, 1946) e o artigo Perception in chess (CHASE; SIMON, 1973a). O livro de De Groot acumulou 250 citações desde sua primeira edição em inglês em 1965 até 1989, enquanto que o artigo de Chase e Simon acumulou 350 citações no período de 1973 até 1989, sendo, portanto, duas citações clássicas: “a ‘citation classic’ accolade is usually awarded when a work hás between 100 and 400 citations, depending on size of the field of inquiry, so these two works can safely be judged to be classic ones.” (CHARNESS, 1992, p. 4). SAARILUOMA (1995, p. 17-20), descreve algumas particularidades que esclarecem porque o xadrez é tão apropriado para investigações cognitivas:
a) O xadrez tem uma base finita (32 peças com apenas 6 tipos diferentes de movimentos, um tabuleiro com 64 casas e um conjunto de regras bem definidas), mas a complexidade gerada a partir desses elementos simples é de tal ordem que o enxadrista não é capaz de calcular todas as variações e deverá conceituar as posições da partida antes de fazer suas escolhas.
b) Os enxadristas podem ser classificados em níveis de habilidade através do sistema de classificação (ELO, 1978) chamado rating1 que é adotado mundialmente. Assim, experimentos feitos em qualquer país podem ser comparados com precisão. Os experts reagem à mesma posição de jogo de modo diferente dos novatos, e isto é muito útil para compreender a seletividade. Os jogadores profissionais ou semiprofissionais tiveram que trabalhar milhares de horas para adquirirem seus níveis, e as habilidades que desenvolveram permitem aos pesquisadores analisar sistemas conceituais de diferentes níveis, o que faz do xadrez um jogo que possibilita obter informações sobre esses sistemas de processamento.
c) Os jogadores desenvolveram hábitos para verbalizar seu pensamento de forma espontânea. É comum ver enxadristas gastarem horas analisando partidas post mortem com seus adversários ou com os amigos. Para pesquisas em psicologia cognitiva essa característica é de grande importância, pois é notória a dificuldade das pessoas verbalizarem seus pensamentos.
GOBET (1998, p. 117) acrescenta também algumas características relevantes relativas à adequação do xadrez para investigações cognitivas:
a) O xadrez oferece uma rica base de dados de partidas jogadas por competidores de diferentes níveis de habilidade, que podem ser usadas em estudos envolvendo ambiente estatístico.
b) A base relativamente simples do xadrez é facilmente transformada em linguagem matemática ou computacional.
c) Permite um cruzamento com a Inteligência Artificial.
d) É uma atividade flexível que permite muitas manipulações experimentais.
Embora o jogo de xadrez apresente muitas características que o tornam atrativo para pesquisas cognitivas, poucos estudos foram feitos apoiados na teoria de Piaget. Encontramos somente um, a dissertação de mestrado do belga Christiaen intitulada Chess and cognitive development (GOBET, 2002, p. 10-13), que buscou verificar se o estudo e a prática do xadrez aceleram a passagem do estágio operatório concreto para o operatório formal, mas nenhum efeito considerável foi encontrado (GOBET, 2002, p. 12). Nossa investigação terá como suporte a teoria de Piaget, mais precisamente na obra A tomada de consciência (PIAGET, 1974a2), buscando estudar os processos cognitivos no jogo de xadrez. Acreditamos que essa investigação se mostrará relevante, não somente por não ter sido realizado um estudo semelhante, mas principalmente por que os processos cognitivos durante o jogo de xadrez podem ser descritos de forma clara e objetiva, sob o escopo da Epistemologia e da Psicologia Genética.

O trabalho completo do Professor Wilson da Silva pode ser lido no link:

http://www.fexpar.esp.br/Leituras/mestradowilson/processos_cognitivos_no_xadrez.pdf